ÁREA DO ASSOCIADO

17/08/2018

Entrevista com Marcos Piangers - De liderança à inovação



Ele trabalha desde 2001 com comunicação jovem e plataformas digitais no maior grupo de mídia do sul do Brasil. Apresenta o programa Pretinho Básico, um fenômeno de audiência e ganhador do prêmio Melhores 2014 do iTunes, da Apple. Produz conteúdo para tv, rádio, jornal e internet. É responsável pela inovação nas rádios entretenimento do grupo RBS e coordena a área digital, área de vídeo, redes sociais, branded content e de impressos da Rede Atlântida. 

Em 2015 escreveu o best-seller O Papai é Pop, o livro que já vendeu mais de 100 mil exemplares e fala sobre sua maior paixão: ser pai da Anita e da Aurora, as meninas que dão razão para a sua existência. Em 2016 lançou O Papai é Pop 2, que alcançou o ranking nacional de livros mais vendidos do Brasil.  Com muitas palestras em seu currículo, ele já participou do TEDx e tem milhões de visualizações no Youtube e seguidores. Piangers também é um especialista em tecnologia e inovação no mundo dos negócios.

Mesmo com sua agenda corrida, ele gentilmente concedeu uma entrevista para nossa equipe. O conteúdo vai de paternidade, liderança até inovação e futuro das empresas, confira:

Como a paternidade mudou sua vida?
É difícil de explicar para uma pessoa que não tem filho, o quanto o nascimento de uma criança representa uma missão na sua vida e uma responsabilidade tão grande. É difícil explicar o impacto que isso causa. Ter filho no primeiro momento é um susto e uma responsabilidade, um peso, mas com o tempo vai se transformando em um deleite, em uma alegria e uma realização. Mudou minha visão de mundo, minha percepção com relação ao quão bom tenho que ser como homem, como marido, e como pai, e me ajudou a me esforçar em ser um pai que eu não tive, a ver o mundo com um olhar mais encantado, de criança, mais criativo, mais interessado, mudou completamente minha vida.

O papel do pai tem mudado?
Sim, acho que a gente passou de gerações que não eram muito participativas para uma geração que é muito mais interessada nessa missão e muito mais comprometida também em demonstrar afeto e colocar limites. Acho que com o tempo a gente tem mais informação e consequentemente mais condição de ser melhor.

Ser pai é ser líder, concorda? Quais características da paternidade podemos aplicar na liderança de nossas empresas?
Bom, eu acho que o pai, acima de tudo, quer transformar a sua família em um projeto bem sucedido. E obviamente dá para fazer várias ligações entre performance empresarial e a paternidade, inclusive, eu estou lendo um livro chamado Grit, que em português foi traduzido como Garra, que a escritora é uma psicóloga e fala exatamente isso, como a criação e a formação de equipes tem a ver com a formação de uma família e de pessoas comprometidas, neste sentido acho que dá para fazer muitos paralelos.

Quando falamos em liderança, falamos em responsabilidade. Tanto como pai, como líder nas empresas, é importante sabermos a hora certa e não termos medo de dizer sim e não?
Claro que sim, para muitos pais é complicado dizer não porque eles confundem o limite com a falta de amor e isso não é verdade. Oferecer limites e mostrar para criança a importância de respeitar as situações é amor também. Acho que todo líder tem que dar essa possibilidade de limites para sua equipe, mas ao mesmo tempo incentivar, como eu tento incentivar as minhas filhas e minha equipe, a um questionamento do limite, a uma pergunta constante, a um desafio do “sempre foi assim”. “Por quê que a gente está fazendo aquilo”, será que essa é a forma mais eficiente?  Será que essa é a melhor forma possível? 

Assim como as crianças fazem, é fundamental perguntar os porquês da vida, isso facilita na hora de inovarmos?
Com certeza, esse é um dos pontos mais interessantes para percebermos o paralelo entre crianças e um pensamento novo com relação aos negócios. As crianças estão o tempo todo perguntando porquês. O entendimento dos motivos e das motivações é fundamental para que a gente entenda o porquê ou o motivo que nos leva a fazer o que a gente faz. Nesse sentido a minha filha sempre perguntava, por que que eu tinha que ir trabalhar, e esse “por que, por que, por que”, me ajudou a entender realmente o porquê que eu vou trabalhar. Por que eu gosto do meu emprego, por que eu realizo alguma coisa importante no meu emprego, por que eu tenho propósito naquilo que eu faço todos os dias no escritório ou eu estou indo trabalhar só para ganhar dinheiro e pagar conta e me aposentar? Eu tenho um propósito naquilo ou estou simplesmente passando o tempo no escritório? Então, esse questionamento dos porquês da motivação é fundamental, não apenas na hora de inovar mas principalmente na hora de nos conhecer, de desenvolver autoconhecimento e consequentemente achar o nosso propósito de vida.

Enxergar as oportunidades é um dos segredos para inovação? 
Bom, a inovação sempre acontece quando a gente tem ferramentas tecnológicas disponíveis aliadas a uma capacidade de imaginação. Nossa capacidade de olhar ao redor de pensar: Poxa, eu acho que tem uma forma melhor, diferente, mais interessante, mais eficiente, mais moderna de realizar aquilo que a gente sempre realizou. A inovação só acontece quando alguém tem a capacidade de imaginar uma forma nova, diferente, disruptiva de realizar o seu trabalho.

Muito se fala em gestão disruptiva, ela é uma opção?
É uma opção para quem tem coragem. A disrupção passa pela coragem de matar o seu próprio negócio, matar a sua própria galinha dos ovos de ouro, matar a forma como você faz o trabalho hoje, matar o jeito como a sua empresa se comporta, como ela conversa com público, como ela é desenhada em termos hierárquicos. 
Temos uma série de motivos para não inovar,  manter a zona de conforto, manter o status quo, manter o faturamento crescendo um pouquinho todo ano, às vezes caindo no ano de crise e subindo de novo, manter a forma que sempre foi feito. Mas ao mesmo tempo em que você está comprometido com estas pequenas melhorias incrementais, existem outras empresas, empresas de tecnologia, empresas que estão olhando ao redor percebendo uma nova forma de realizar negócios, que não estão pensando em melhorar um pouquinho o faturamento, mas estão pensando em melhorar 10 vezes o faturamento, em crescer exponencialmente, em crescer 2000 por cento por ano, coisa que provavelmente a maioria das empresas não pensa. 

O mesmo trabalho que dá pensar pequeno e realizar pequeno, dá para você pensar grande e realizar grande, começar a desenvolver dentro da sua empresa uma cultura de inovação, uma cultura de disrupção, selecionar pessoas para fazer parte de um grupo de inovação que vai peitar e desafiar o status quo, mesmo dentro daquela empresa, e realizar de fato uma mudança, uma virada de jogo mais alinhada com aquilo que existe de mais moderno na execução daquele seu serviço e daquele seu produto.

De que forma podemos organizar nossas empresas para criar um ambiente inovador?
Primeiro, oferecendo uma cultura que desafie o status quo, que desafie a hierarquia e possibilite que todos tenham ideias, possibilite que todos se sintam ouvidos e possibilite que essas ideias sejam prototipadas, e se derem certo tenham investimento maior de tempo e dinheiro. Essa é a única forma de termos um ambiente inovador em qualquer empresa tradicional, transformando essa empresa tradicional em uma empresa que desafie o “sempre foi assim”, por que a gente faz isso? Porque sempre foi assim. Por que a gente está fazendo isso assim? Porque sempre foi assim. Desafiar essa frase é fundamental para uma empresa adquirir um espírito inovador.

Muitos veem a tecnologia e a inovação como ameaça, mas afinal devemos ficar preocupados?
Acho que não, a gente sempre viu a tecnologia como ameaça, a gente vê o carro com medo de ser atropelado. O fogo, o avião, as pontes e todas as tecnologias das inovações sempre foram acompanhados de muita desconfiança, medo e descrença. Eu acho que a gente não precisa ficar preocupado, o mais importante é se apoderar, se apropriar de ferramentas tecnológicas para de fato utilizá-las para fazer um mundo melhor.

Qual sua visão para o futuro das empresas?
Acho que a internet e a tecnologia vão impactar todas as empresas, todos os negócios, todas as marcas e todos os profissionais. Quando você parte desse princípio, você começa a visualizar e a prever como vai ser o futuro das empresas, das marcas, dos profissionais e das profissões. Acho que muitas empresas não percebem isso e acreditam que o negócio vai continuar sendo feito como sempre foi, mas em alguma garagem, em algum quarto na frente de algum computador, uma criança, um jovem ou mesmo adulto, está planejando o futuro dessas empresas que provavelmente vão se tornar obsoletas.

Como conciliar vida profissional e pessoal de maneira sadia?
Em geral o empreendedor, o apaixonado por empreendedorismo, é alguém que já encontra prazer e felicidade naquilo que está fazendo, então muitas vezes ele está tão dedicado e feliz, naquela realização profissional que ele deixa a família um pouco de lado e isso é um grande problema se você tem um filho, se você tem uma esposa, se você tem responsabilidades de criar e formar uma família.

Isso faz com que muitos empreendedores se sintam frustrados na vida pessoal e por isso é importante discutir e rediscutir essa questão da realização profissional e da realização pessoal também. Acho que sim, acho que é possível equilibrar as duas coisas e é importante que os empreendedores percebam que estar ocupado não significa ser útil. Muitas vezes a gente passa horas respondendo mensagens que ninguém vai ler ou que não são importantes, fazendo reuniões longas que não chegam a lugar nenhum e preenchendo relatórios que não fazem diferença nenhuma para o fechamento do mês na empresa. Então essa percepção de utilidade, de realmente ser eficaz faz a diferença e é muito importante para o empreendedor e para os profissionais em geral.

Vamos finalizar com o nome de nossa revista, para você, o que é um bom negócio?
Um bom negócio é aquele que tem impacto social, melhora a vida das pessoas, está alinhado com o seu propósito de vida e deixa um mundo melhor para os seus filhos.

tags: inovacao, entrevista, paternidade, liderança



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